17 março 2011


Às vezes mais vale desistir do que insistir , esquecer do que querer , arrumar do que cultivar , anular do que desejar . No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem , mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito , (...) . Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução , deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero , bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás , abrir a janela e jogar tudo borda fora , queimar cartas e fotografias , esquecer a voz e o cheiro , as mãos e a cor da pele , apagar a memória sem medo de a perder para sempre , esquecer tudo , cada momento , cada minuto , cada passo e cada palavra , cada promessa e cada desilusão , atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora , ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo . Às vezes é preciso saber renunciar , não aceitar , não cooperar , não ouvir nem contemporizar , não pedir nem dar , não aceitar sem participar , sair pela porta da frente sem a fechar , pedir silêncio e paz e sossego , sem dor , sem tristeza e sem medo de partir . E partir para outro mundo , para outro lugar , mesmo quando o que mais queremos é ficar , permanecer , construir , investir , amar . Porque quem parte é quem sabe para onde vai , quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar , o sol , o vento , o céu e o cheiro do mar são os nossos guias , a única companhia , a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira . Quem fica , fica a ver , a pensar , a meditar , a lembrar . Até se conformar e um dia então esquecer .                                                                                        Margarida Rebelo Pinto
Nunca me deixes , por favor . Eu vivo de ti...e para ti

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